Ainda moço, nos longínquos idos de trinta, o Vicente (Centinho, desde bebê),
caboclo esperto, bão de prosa (como se dizia na época; assim contou meu pai)
resolveu vender a Bandolera, uma vaquinha muito boa de leite, diziam a melhor
da região.
Não faltaram interessados na vaca da Dona Luzia (a verdadeira dona, consorte do
Seu Centinho). Entres estes estava o Coroné Migué, o maior fazendeiro local,
que foi até às terras dos donos da primorosa.
- Dia, Coroné!
- Dia, Seu Centinho!
- Que bãos vento troxe o coroné pra minha umirde terra?
- Tô sabeno que o senhor qué vendê a vaca da Dona Luzia. É
verdade?
- É sim, coroné.
- Quanto o amigo qué pela Bordadera?
- BORDADERA? O coroné RESPEITE minha muié.
- Discurpa home, mas num tô falano da sua muié. Tô falano na
vaca da sua muié. Ela num chama Bordadera?
- NÃO! O coroné é home valente, sei disso, mais eu num vô dexá o
sinhô falá mar de minha Luzia! Minha Luzia bordadera!
- Discurpa, Seu Centinho, ma ...
- NUM CARECE SE DISCURPÁ! É mió o coroné issimbora de minha
terra. Num vendo minha Bandolera pro coroné, nem por todo dinhero desse mundo.
- Discurpa, home. Foi um mar intendido. Pensei que a vaca
chamava Bordadera.
- O CORONÉ TÁ DE BRINCADERA COMIGO?
- NUM TÔ NÃO, HOME! SÔ HOME DE RESPEITO I U CUMPADI DEVE SABÊ
DISSO!
- Discurpa
coroné, mais ...
- MAIS O QUÊ?
- Vamô mudá o rumo dessa
prosa coroné!
-É mió memo, Seu Centinho.
- Mais ..., memo assim não tem negócio com o coroné.
- PRA NUM FICÁ DÚVIDA DÔ UM CONTO NA BANDOLERA!
- Bheinn! Nesse caso que o coroné tá mostrano que é home de
horna, eu num posso dexá de dá valô pra isso; eu vendo!
Fez-se o
negócio. O coronel, feliz da vida, levou a Bandolera para a Fazenda Monte
Verde.
O Seu Centinho pegou o dinheiro e correu para casa. Tinha de falar com a
mulher; e era urgente.- LUZIA! LUZIA! LUZIA!
- Mais o que tá aconteceno home pro cê ficá nesse berrero todo?
- Muié, vai pra casa da sua mãe; e vai logo quo cê tem que aprendê bordá!
(AEM, 2011)

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