Viver em um mundo estático
parece bom, até que você descobre que tudo está em movimento. Estar seguro e
confortável é algo que todos querem, creio que faça parte do instinto de
preservação humano; enfim, sobreviver é preciso. Navegar não é mais preciso.
Isto é perfeito, o problema é que não disseram isto para os loucos. Daí estes a
saíram por aí querendo movimento. Ação. Reação. Inovação. Mo-vi-men-ta-ção.
Parece que surgiu a insatisfação.
Estranho é saber que estes insatisfeitos parecem não querer voltar a
razão dada pelos equilibrados. Estes uns, que estão lá, olhando tudo em seu
ponto de vista estático; naquele ponto de vista onde tudo pode ser visto e
pensado. É certo que tudo é visto a milhões de milhas de distância e sentido apenas
pelos sentidos da lógica.
Oras! Como os loucos que estão lá tentando embebedarem-se de liberdades
podem saber mais que os doutores lúcidos sobre as questões que tratam da alma
humana? Mas, há uma questão um tanto inconveniente que parece irritar os doutos:
quem foi que construiu nosso mundo?
Sei! Não foram os estáticos e eles sabem disto. Não! O nosso mundo não é
obra dos ditos guardas dos bons costumes e moral. Estes, quando muito,
deduziram algumas coisas nos infinitos e criaram suas normas e leis através do
que foi vivenciado pelos loucos e sonhadores. E como são bons para criarem
leis, por decreto elegeram-se o centro do universo.
Por decretos impuseram-se soberanias mais por temor que por
acreditarem-se soberanos de fato.
Por decretos afirmaram-se senhores da ética e ditadores da moral.
Decretaram que tudo deveriam ser estático, embora soubesse que tudo
nasceu do movimento dos loucos e sonhadores.
E por que eles simplesmente não sobem em seu trono (aquele que fica lá à
esquerda, ou à direita, na última porta) e deixam os sonhadores construírem
tudo para eles? E quem disse que não é exatamente isto o que eles querem e que
estão fazendo?
É isto mesmo! Vivem a criticar e tentar derrubar os loucos e sonhadores,
mas é somente para manter as aparências de seres superiores. Sabem que nada
podem fazer, mas precisam das coisas feitas. Então, deixam frestas suficientes
para que as coisas aconteçam, e quando estão prontas lá estão eles para pegar
os louros. Assim são os soberanos do trono da última porta à direita (ou, à
esquerda).
Talvez tenha chegado a hora dos loucos e sonhadores romperam as
fronteiras do universo estático (que de fato está em movimento) e fugir para um
universo onde o movimento não seja proibido. Onde a vida possa ser vivida em
plenitude.
Quem se importa com lógicas e direções, razão e
proporção, quando se é verdadeiramente livre?
(AEM, 2012)