domingo, 18 de agosto de 2019

VINTE ANOS

Viva uma vida
Linda e meiga
Em pele de vinte anos
De juventude e hormônios
Mas, já de lutas e vivências
De sonhos distantes
E de realizações do hoje
Em seu caminho de vinte anos
Que teus olhos
Negros e lindos
Em olhar de vinte anos
Olhe-me e veja-me
E deseje-me
Em seus desejos de mulher de vinte anos
Que seus lábios
Lábios de vinte anos
Róseos, marcantes
Sorriam e queiram os meus
Em sua doçura de vinte anos
Que tuas mãos que trabalham
Mas, brancas, macias, suaves
Mãos de vinte anos
Entrelacem as minhas
E seus dedos
Dedos de vinte anos
Toquem suavemente minha face
Assim, como nas imagens que crio
Toco a sua face
Face de vinte anos
E na imagem que crio
Encosto em teus seios
De vinte anos
E envolvo-te
Envolvo teu corpo de vinte anos
E amo-te em volúpia
E você me corresponde
Em tua volúpia
Volúpia de mulher de vinte anos

(AEM, 2005)
Não devemos fazer o que é certo/lícito somente quando outros estão olhando (ou somente porque Deus tudo vê, caso você creia Nele).

Devemos fazer o que é certo/lícito por nós mesmos.


Oras! Agir com coerência, com licitude, somente porque há outras pessoas olhando (ou testemunhando) é ser hipócrita (quem sabe até criminoso).


Agir com coerência, com licitude, somente porque Deus está olhando é somente medo, somente covardia. Mas pode se considerar que aqui há um caminho.


Agir com coerência, com licitude, quando se está sendo observado apenas pela própria consciência é ser ético, é ter moral. É ser integro.

(AEM, junho/19)

EXPRESSÃO


Abra-te, olhos
Abrace o infinito
Perca-se em um canto da mente
Não em um canto de ritos
Onde se mente em um canto insistente

Perca-se!
E queira um tanto de Deus
Mesmo que seja um deus insano
Um, tal como Vincent
Mesmo que se perca em breus
E  dance uma música estranha
Dance o que se sente
Talvez enlaçado com deuses ateus

Expressa o tudo e o nada
Abstraia o sólido
Encarne a solidão
Liberte a alma que se quer transfigurada

Absorva as dores e os vícios
E em uma taça de revanche
Despeje ânsias e desperdícios
E dissolva o silêncio que cai tal avalanche
E crie do vazio e do silêncio etéreos
Um universo cheio de mistérios.

(AEM, 2015)

Arte


Pois bem, em meu trabalho arrisco a vida e nele minha razão arruinou-se em parte... (Vincent Van Gogh  - Cartas a Théo)

Na última carta ao irmão Théo, Vincent suspira suas últimas perturbações e dores que estão próximas de cessarem; dores de uma alma rebelde e genial, por isto aguda, incompreendida e relegada à solidão. Sua história de vida lega à posteridade o preço que se paga pela obstinação, pela fé em si mesmo quando se quer trilhar caminhos novos. Talvez sua vida não foi mais que simples desequilíbrio: que seja, mas ainda assim obstinada. Os impressionistas já haviam pago suas cotas. Vincent, assim como Cézanne, também teria de  pagar; e pagou. Pagou muito mais caro, pois foi além; foi aos limites da alma. Foi onde caminham os gênios e heróis; ou os loucos e “perdidos”.
Na vida, e na arte em particular, embora sempre estivessem presentes talento, técnicas bem desenvolvidas e conhecimentos, os grandes nomes, as grandes referências, os que permaneceram se fizeram tal por um estado de profundidade de espírito em um misto de loucura e liberdade, vinho e absinto.

Foi assim e creio que sempre será.
Edvard Munch também atesta isto quando fica a tremer de ansiedade e sente o grito infinito da Natureza e traduz suas percepções em uma obra icônica. Sempre as mais profundas sensações.
Séculos antes dos modernos Caravaggio diz: não devem apenas olhar para as meus quadros, não só devem contemplar, devem sentí-lo. Ao que parece, o gênio italiano conhecia bem sobre as potencialidades inerentes à alma e seus diálogos. E em sua vida conturbada leva sua prática artística a extremos e usa mendigos, prostitutas e, segundo alguns, usa cadáver como modelos o que chocou o seu tempo, mas não era esta sua intenção; seu intuito era levar realismo às composições. Oras! Como melhor representar uma personagem morta do que usando como modelo uma mulher morta, mesmo que a figura representada seja a Virgem Maria? Mais que simples efeito cênico fica uma aura que envolve artista e quem admira a obra. Uma escancarada honestidade do artista não passa incólume para o espectador e menos ainda aos detratores, os tais representantes dos bons costumes e moral.

Mas, que se pesem loucuras ou “sanidades” e plenas liberdades ou rebeldias contra os dogmas vigentes sempre há algo que surge do mais profundo do Ser de um artista, de um criador, que busca os limites em si mesmo, que busca por novos mundos, sejam de utopias e sonhos, ou realidades e contestações e me faz crer que a arte não é senão uma das mais nobres manifestações da alma e dá como reflexo a cada um de acordo com a suas potencialidades; dá a potencialidade para se construir grandes Histórias, que, se caminharem para dores e angústias, talvez se esteja no caminho dos vencedores.

(AEM, 2016 - publicado no Livro Das Mãos, a Obra)

O Homem somente consegue ver no mundo o que está em si mesmo. Isto é uma Verdade ou Mito? Fé (na vida, na morte; em Deus ou sei lá em que; em si mesmo ou no nada), medo (das noites, do outro, de si, de tudo, do nada).
Devaneios da mente, da alma.  Alma? Espírito? Verdades e mentiras: o que é o que?
Somente sei que nada sei, disse o Filósofo, mas vivemos no mundo do “eu tenho as verdades (todas, sejam elas quais forem) e vou com todas estas minhas posses até o infinito (ou para o nada)”. Pena que entre tantas verdades deste mundo há as dos que pensam serem eles os verdadeiros de fato e por isto vivem a empurrar para os outros sua salvação (para Deus ou de Deus; para o tudo ou para o nada).
Mas, eu tenho minhas verdades também: uma delas é que todo Homem é livre para crer / ser (ou não crer / não ser) e tem o direito pleno de ser respeitado.


(AEM, 2014)