Vou
a um tempo e lugar em que não vivi e vivo por um instante o
pensamento de uma gente: estudar para quê? Estudar não enche
barriga.
Café, arroz, feijão. Gado às
vezes. Eram os trabalhos dos homens.
Café,
arroz, feijão. Carne às vezes. Eram os trabalhos das mulheres.
Minha mãe conta as dificuldades
de um tempo contra o conhecimento. De um tempo e povo escravo do
agora. Sobreviver é preciso, conhecer não é preciso; a não ser
aquilo que o instante obriga. Enfim, os calos sabem o que e como
fazer.
Daqueles
dias insólitos, salto para o agora e vejo a antítese daquele tempo,
onde tudo gira e fala em conhecer, criar, recriar, aprender, inovar,
reciclar. Um salto de anos que parece de séculos. Será?
Será que ainda o país ainda não
está escravo do momento? Se o chamado centro-sul já fala em tempos
novos o norte-nordeste ainda vive à sorte da natureza. Café, arroz,
feijão ... às vezes. Conhecimento, educação? Oras, oras.
Fala-se muito. Uns poucos vivem o
muito. O resto, todavia, fica com o resto.
Quando se espera uma reviravolta,
pois se diz que se tem uma porcentagem de crianças e adolescentes
nas escolas vem um sistema de ensino cada vez mais deteriorado. Isto,
talvez, seja uma evolução. Transforma-se um país
de analfabetos em país de semi-analfabetos. Para breve a
próxima etapa. Quem sabe este século veja o epílogo desta comédia.
Quando se espera igualdade de
bases vem uma equação de cotas para minorias. Uma forma de se
esconder a própria incompetência em dar base sólida. Daí, quando
se vê que a casa vai ruir improvisa-se uma escora. Pudera, escora-se
de tudo por aqui. É para isto que servem as verbas.
As verbas deveriam ser para
equacionar planejamentos, mas o que sobra do mau uso vai para escoras
mesmos.
Então, esqueça-se o poder
público.
Mas, há um poder privado capaz
de suprir a ausência estatal? A sociedade pode fazer o que deveria
ser feita pelos impostos? Sim?
Então,
seja então imposto mais este labor.
É sempre assim mesmo. Sempre
temos de pagar em dobro pelos chamados direitos básicos
constitucionais. E por todos os outros também.
De
fato, de todo este emaranhado, o que sobra é uma enorme boa vontade
de gente que quer se fazer por si mesmo, pois sabe que somente
consigo mesmo pode contar. (Há um quê de abandono no ar. Respira-se
como e quando se pode.)
Possivelmente
um mundo em reação buscando renovação que Darwin definiria melhor
que Freud ou Betinho seja a mola que venha impulsionar as bases de
pessoas comuns; pessoas reais. Pessoas que não têm o Estado e nem
organizações sociais que lhes dê amparo. Pessoas que agradecem por
terem um emprego, ou agradecem pelo emprego dos arrimos; empregos,
quase sempre, de meses longos e apertados.
Creio que todas soluções estejam nelas, pois antes de tudo são a
verdadeira força. É o país que luta e vence. E o país que anda a
passos pesados, mas caminha; e caminha sorrindo. É o país que quer
ver todos em caminho de vida, de luz, pois conhece muito bem o
caminho dos espinhos e das armadilhas
nas pontes que se tem para atravessar.
E
para toda caminhada há de haver o primeiro passo. Passo este que já
está dado nas organizações sociais que com voluntários tentam
fazer aquilo que a política imediatista não faz por ser
cultura e educação muito caras; tecnologia então ... nem ouso
mencionar.
Enfim, sobreviver é preciso, dar
conhecimento não é preciso. Aliás, dar conhecimento é
desnecessário; inoportuno.
Então,
que venha de baixo a nova ordem! Pela primeira vez em nossa história
uma revolução vinda de baixo?
Uma
revolução silenciosa; sem líderes; sem discussões estéreis; sem
culpas. É o que se vê por todo lado: no sertanejo que ensina música
sob as sombras das árvores; nos cursos preparatórios na periferia
dos grandes centros; na arte das ruas; nas empresas que alfabetizam;
na pessoa comum que oferece o que tem de si para muitos que, quando
muito, tem somente esperanças.
Eis a nova ordem; a nova
revolução: revolução do Homem pelo Homem.
Uma
revolução de gente, de vida, de conhecimento ... e silenciosa ...
em um tempo ainda contra a lógica e a razão, embora tente dizer e
mostrar o contrário.
(AEM, 2006)