terça-feira, 30 de julho de 2013

Libertas Quæ Sera Tamen

Hoje parei e me fixei nas paredes de meus sonhos, idéias, ideais e tudo o mais. 
Ah! E o que vi? 
O que vi?
Talvez seja melhor perguntar o que não vi. Não vi avanços. Não vi caminhos. Não vi nem os ideais que me sempre foram tão caros. Sonhos? Estes estavam lá, digo, estão lá. Isto é o que ainda me faziam levantar depois das noites que eram mais de devaneios. Delírios mesmo, por vezes. Mas de sonhos não se constrói futuros; estes só dão os ingredientes para as ações, para os passos; para as lutas.

Mas, com minhas idéias em letargia; meus ideais adormecidos, que mais parecem querer sonhar também; com minhas metas cheias de desvios e sem apontar um final, era muito difícil construir seja lá o que fosse. 
Mas por um instante olhei fixo para aquelas paredes …

- Ah! Deus 
Senti um arroubo - talvez fosse o que me faltava - senti um desejo enorme de derrubar tudo o que via. Quebrar tudo: tijolo por tijolo daquela maldita cela. 
Cela! Oras! Agora percebo que vivia em uma cela: eu, nobre prisioneiro de meus pudores. Senti algo fluir por mim, como se a correr por minhas veias, senti um desejo enorme de andar, correr, voar. Senti-me como se a maldita Medusa que me transformara em um ser inerte desabasse ante meus pés.
Pisei-a. 
E me dei conta do universo que abria e se revelava no mais íntimo em mim. 
Sonhos! Estes ainda estão lá. Estão na sombra do amanhã.

Mas num arroubo de desespero encontrei o hoje. Num momento de delírio encontrei a paixão. 
E o que é a paixão? 
A paixão é a maior escravizadora de homens. 
A paixão leva homens à cruz, às guerras, ao martírio. 
A paixão é fogo que arde e quer incendiar tudo. Não há o que se fazer quando ela cai sobre o homem. Mata-se, rouba-se, enlouquece-se. 
Se um sonho pode ser esquecido ou virar mera fantasia; uma paixão tem de se tornar realidade, ganhar vida. 
Se um desejo pode até ser relegado; a paixão jamais, jamais retrocede, ela é obstinada. 
Se uma vontade pode parar na fraqueza; a paixão já nasce da força. 
Se o amor é altruísta; a paixão é por demais egoísta, possessiva. 
Foi ela que caiu hoje sobre minha cabeça e me fez derrubar as paredes que demarcava os limites de minhas fraquezas. 
Por onde ele me levara agora? Sei lá. O que sei é que ela me libertou.

(AEM, 2005)

sábado, 20 de julho de 2013

UM CASO DE FÉ

Um guarda florestal seguia sua rotina: ir à noite ao posto para seu plantão; como sempre fazia, cruzando os caminhos de bicicleta.
Em um certa noite, aparentemete comum, enfrentaria uma das encruzilhadas de seu destino.
Após um certo percurso percebeu que a sua frente havia leões, e para evitá-los entrou em uma trilha no intuito de fugir das feras sem ser percebido. Vendo-se livre não notou que naquele outro caminho havia duas leoas. Quando se deu conta já era tarde. Uma das leoas o atacou. Ao cair, levantou-se rápido na tentativa de alcançar um lago que ficava próximo, pois acreditava que as leoas não o atacariam nas águas, mas não conseguiu.
As feras o derrubaram e começaram a arrastá-lo pela perna.
Sabia que ninguém o ouviria se gritasse. Nada e ninguém neste mundo poderia salva-lo.
Entregou, então, sua vida nas mãos de Deus. Pôs-se a orar. E o milagre se deu: as leoas o deixaram.
Encontrado ferido apenas nas pernas estava mais vivo do que jamais fora.
Esta história é real. Vi em uma reportagem de tv. Impressiona as cicatrizes que ficaram na perna do homem. Porém maior que estas marcas, o que realmente impressiona é a fé que ficou cravada no coração do guarda. Pois a reportagem sobre ele finalizou com o homem seguindo o mesmo caminho para seu posto, enquanto afirmava que nada temia, porque sabia que Deus o estaria protegendo.
A normalidade para as pessoas em casos extremos de “stress” é ficarem traumatizada, o que contrasta com a história do guarda africano. Mesmo saindo ilesas de situações de risco, as pessoas agradecem a Deus pela vida, mas quase sempre levarão no íntimo o medo de reviverem as tragédias.
A diferença está em apenas crer em Deus, caso comum a todos; e realmente possuir a Fé, como no caso do guarda.
E fica uma questão: qual teoria cética seria capaz de demover a crença deste homem e de tantas outras pessoas que passaram por momentos extremos e estão aí para contar suas histórias?