Hoje parei e me fixei
nas paredes de meus sonhos, idéias, ideais e tudo o mais.
Ah! E o que vi?
O que vi?
Talvez seja melhor perguntar o que não vi. Não vi avanços. Não vi
caminhos. Não vi nem os ideais que me sempre foram tão caros. Sonhos? Estes estavam lá, digo, estão lá. Isto é o que ainda me faziam levantar
depois das noites que eram mais de devaneios. Delírios mesmo, por vezes. Mas de sonhos não se constrói futuros; estes só dão os ingredientes para as
ações, para os passos; para as lutas.
Mas, com minhas idéias em letargia; meus ideais adormecidos, que mais parecem
querer sonhar também; com minhas metas cheias de desvios e sem apontar um
final, era muito difícil construir seja lá o que fosse.
Mas por um instante olhei fixo para aquelas paredes …
- Ah! Deus
Senti um arroubo - talvez fosse o que me faltava - senti um desejo enorme de
derrubar tudo o que via. Quebrar tudo: tijolo por tijolo daquela maldita cela.
Cela! Oras! Agora percebo que vivia em uma cela: eu, nobre prisioneiro de meus
pudores. Senti algo fluir por mim, como se a correr por minhas veias, senti um desejo
enorme de andar, correr, voar. Senti-me como se a maldita Medusa que me transformara em um ser inerte
desabasse ante meus pés.
Pisei-a.
Pisei-a.
E me dei conta do universo que abria e se revelava no mais íntimo em mim.
Sonhos! Estes ainda estão lá. Estão na sombra do amanhã.
Mas num arroubo de desespero encontrei o hoje. Num momento de delírio encontrei
a paixão.
E o que é a paixão?
A paixão é a maior escravizadora de homens.
A paixão leva homens à cruz, às guerras, ao martírio.
A paixão é fogo que arde e quer incendiar tudo. Não há o que se fazer quando
ela cai sobre o homem. Mata-se, rouba-se, enlouquece-se.
Se um sonho pode ser esquecido ou virar mera fantasia; uma paixão tem de se
tornar realidade, ganhar vida.
Se um desejo pode até ser relegado; a paixão jamais, jamais retrocede, ela é
obstinada.
Se uma vontade pode parar na fraqueza; a paixão já nasce da força.
Se o amor é altruísta; a paixão é por demais egoísta, possessiva.
Foi ela que caiu hoje sobre minha cabeça e me fez derrubar as paredes que
demarcava os limites de minhas fraquezas.
Por onde ele me levara agora? Sei lá. O que sei é que ela me libertou.
(AEM, 2005)
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