terça-feira, 3 de setembro de 2013

Insólito diálogo em um instante surreal

Hoje surpreendi um estranho diálogo entre meu salário e o mês de Setembro.

Poeticamente Setembro disse:
- Salário este mês dar-te-ei a oportunidade de transformar-te em flores.
Seguir os perfumes nas ruas, praças;
No entorno do Lago;
Verás minhas cores, meus odores, minha doçura;
Comemorarás as árvores em seu dia,
Que trago em mim, quando a Primavera chegar.

Ignorante meu Salário perguntou:
- Que dia é este em que a Primavera chegará, pois jamais vi este mítico dia.

- Oras, Sr Salário, este ano trarei ao hemisfério sul a primavera no dia 23, mas todos  os anos comemoraremos as árvores no dia 21. Todos sabem disto.

Triste, Salário vaticinou:
- Não viverei para ver este dia Sr. Setembro; muito antes terei perecido.
Jamais vi o Sr. trazendo as flores e esta tal doçura.

Consternado Setembro baixou triste a cabeça e murmurou:
- Sinto muito.

Revoltado o Salário calou por um instante para bradar
- HIPÓCRITA!

Diante do pobre mês que de fato estava ressentido o irritado Salário continuou
- Sabes que é muito maior que eu e me vem com poesias, flores e ... – calou por um instante para prosseguir sussurrando - ... doçura...
És de fato um grande hipócrita, Sr Setembro. Não apenas o Senhor, mas todos os meses do ano.

Envergonhado o mês presente, apenas conseguiu balbuciar:
- Realmente sinto muito, Sr. Salário, mas desde que nos inventaram tivemos este espaço de tempo para cumprir. Juro Sr. Salário, se pudesse ficaria menor para poder ajuda-lo, principalmente porque todos tem o direito de caminhar pelo entorno do Lago sentindo meus efeitos. Mas, infelizmente nada posso fazer.

Profundamente humilde o mês olhou fundo nos olhos semimortos do Salário e suplicou:
- Perdoai-me...

Neste instante mágico do diálogo, pude notar uma única lágrima correr pelos olhos econômicos do humilhado e pragmático Salário. Então, virou-se e me viu. Voltando-se novamente para Setembro e sem conseguir encarar o gigante, de olhos baixos, quase sem forças murmurou:
- Eu é que devo suplicar perdão, Sr Setembro.
- Não! Não se culpe Sr. Salário. Entendo sua tragédia. – Falou Setembro, tentando consolar o amigo.

Refeito de sua queda o Salário mostrou-se um pouco espiritualizado
- Sr. Setembro não verei a Primavera que trarás em teus braços e entregará ao mundo, pois irei perecer muito antes, mas renascerei em Outubro – a partir deste momento o Salário elevou-se e prosseguiu, até com um quê de euforia – e caminharei pelo Lago, ruas alamedas, verei flores, belos beija-flores sobrevoando as árvores plenas de cores. Irei perecer novamente em meios as flores para novamente ganhar vida em Novembro. A mesma sina irá me seguir neste mês também, mas enfim ...

Depois vi o antes melancólico transfigurar-se em irônico
- Não! Jamais vi o nascer da Primavera, mas sempre estive lá para vê-la sucumbir ante o Verão, pois em Dezembro sinto-me revigorar em dois e então sou maior que o mês, embora isto aconteça somente algumas vezes. Verei tua cria sucumbir e ela não renascerá no mês seguinte. Eu serei, de fato, o grande vencedor do ano.

Salário, antes de voltar-se para mim novamente, apenas disse adeus a um Setembro que parecia nada entender. O próprio Salário sabia que suas últimas palavras não eram tradução de nenhuma realidade fosse poética, teórica e tampouco para uma realidade materialista, aquela em que vive.

O revoltado, que antes se sentia pequeno diante do gigante, engrandeceu-se em razão e gritou de olhos fixos nos meus:
- A culpa é única e exclusiva sua!  Por que, ao invés de ficar aqui ouvindo esta conversa, você não deixa de comodismo e vai estudar para o concurso? Seu grandessíssimo vagabundo!

Depois de refletir sobre este tétrico diálogo e diante de tão verdadeiro (e cruel) argumento jogado a mim pelo Ninho (como me refiro a ele na intimidade) me virei e pus-me em busca de meu material de estudo.

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