Recentemente tenho estudo o poder da auto-sugestão, mas nesta vida nada como uma aula prática, com direito a requintes de crueldade. Ontem tive minha aula. E digo: foi terrível.
A história começa na verdade há duas semanas quando tomei o chamado capote, tombo, ou digamos, fui à queda. Cai feio.
No calor daquele momento pensei que tinha machucado somente o orgulho, mas com o passar das horas constatei que tinha sido pior. Mas fui melhorando aos poucos. Porém não como eu pensava que teria de ser. Para ser sincero comecei a pensar que a coisa era muito mais grave que eu imaginava.
Então, em plenas férias fui passar um dia no PS de um ma-ra-vi-lho-so plano de saúde.
O impacto inicial foi de fato me sentir integrado como se tivesse em um PS do INSS (ou SUS) com todos os esses de direito: todas Maria’S, todos José’S, todos os Antonio’S, todos os Edson’S, etc...pareciam estar ali.
Bem! Esqueça este detalhe, enfim, isto não era o pior que o dia me reservava.
Depois que o médico chamou o paciente 177 (ou seja: eu), isto depois de algumas horas, fui ao encontro do Dr.
Primeiro contato rápido. O médico me ouviu com atenção e pediu raio-X.
Fui.
Raios-X em pé, deitado, frente e verso.
Voltei para as conclusões do Dr.
- Você está com a coluna cervical deslocada. - Na verdade está tanto que qualquer um pode ver.
- Você sente dor no pescoço?
Pediu-me para movimentar o pescoço de lado, pro outro, pra frente, pra trás.
- Dói?
- Não.
- Você não sente nada?
- Não. Normal.
- Vou pedir tomografia.
Feito o pedido lá fui eu para as duas piores horas da minha vida.
Tomografia pra mim já vem com um rótulo: está ferrado!
Fiz a coisa: entrei naquela coisa girando e me scanneando. Eu e todos as minhas dores sendo caçadas em detalhes pela coisa.
- Tô ferrado de verdade! A coisa provaria isto.
Terminado o exame fui informado que teria de esperar duas pelo resultado.
Para não ficar em meio à agitação do PS fui pro carro ler o texto para fazer uma dissertação que tenho de entregar hoje.
Mas, como me concentrar em Jacques Le Goff com possibilidade de estar verdadeiramente ferrado?
Então senti que meu braço esquerdo estava um tanto dormente. Minha cabeça estava estranha. Buscava uma posição melhor para que minhas costas não doessem.
Le Goff. Mas não rolava.
Será que eu teria de fazer cirurgia?
A ultima vez que fui em um ortopedista, fui pensando que tinha uma simples torção e acabei com uma placa e sete parafusos. Seis destes ainda me acompanham.
E agora, então? Cirurgia de novo? E esta seria muito pior.
Meu braço pareceu adormecer um pouco mais. Virei-me de lado porque meu ombro estava doendo.
Jacques Le Goff. Documento/Monumento.
Mas não rola mesmo.
Fiquei lá no carro tentando encontrar uma boa posição pra ficar. Mas nada resolvia.
Mas nos dias de hoje em que o tempo parece voar até as duas horas eternas passaram e fui em busca de meu diagnóstico, que pra mim àquela hora tinha sinônimo de condenação.
Após alguns percalços para pegar o exame que não valem registro levei o resultado para o médico que por ser PS, portanto plantão, havia sido trocado.
Entreguei meu atestado de condenação para o novo Dr. analisar.
Meu braço ainda dormente, minha cabeça estranha. E o médico lendo indiferente o resultado.
- Isto não é nada.
Desvio na coluna?
- Você deveria ter tratado quando era criança.
- Você não tem nada. Vou passar um medicamento pra você.
Engraçado. Muito engraçado.
Senti-me como se uma tonelada tivesse sido tirada de cima de mim.
Meu braço dormente. Não estava mais.
Minha cabeça um tanto estranha? Não estava mais; ao menos fisicamente.
Peguei o carro achando graça de tudo. Encostei-me no banco que de fato não me incomodava em nada.
Fui pra casa. Depois venci a preguiça e mesmo debaixo de chuva fui pra aula.
Eu de fato me machuquei, mas o que conta mesmo é meu estado mental. Sei, mais do que nunca o poder da auto-sugestão.
Ela funciona mesmo. O problema é que temos uma pré-disposição absurda de somente nos concentrarmos no pior. Agora conheço com convicção, pela prática, aquilo que já conhecia pela teoria, que é o poder que temos.
Mas o mais irônico é que várias vezes já havia experimentado sucesso embasado na força da auto-sugestão. Sabia disto, pois assim havia planejado, mas é certo: aprendemos sempre muito mais com a dor.
Por falar em dor tenho de confessar que fui pra casa sentido dor e não por mera auto-sugestão, mas pela injeção que o médico me receitou que a enfermeira delicadamente disse que teria de aplicada no bumbum.
(AEM, 2013)
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