quarta-feira, 20 de março de 2019

Volta aos século XIX

O fim do reinado da esquerda no Brasil trouxe a comentários de que estávamos voltando para o ano de sessenta e quatro. A referência ao estado de caos políticos que foram os anos sessenta, em verdade não tem absolutamente nada a ver com o que vivemos nos dias atuais. Tudo não passa de falácia e desculpa de quem sabe que carrega uma grande divida com a nação.
Por outro lado não duvido que de certa forma estamos sim muito próximo aos anos sessenta do século passado, pois o ponto em que o país atravessa em vários setores demonstram um claro retrocesso, óbvio os mais visíveis são na educação e saúde.

A educação pública brasileira é uma das piores do mundo, muito diferente da que eu tive de passar (passar pelo ensino em meu tempo significava ter que passar de ano). Hoje as escolas estão tomadas por professores desmotivados e alunos sem expectativas, sintoma de caos que se revela na violência e nos vícios nefastos que explodem nas escolas.
E com a educação básica estando muito abaixo do mínimo para ser considerada básica, gerou uma cultura que beira a mediocridade, e o que se vê é uma fomentação cultural para ser consumida como fast food, que enche, mas não sustenta. Daí a anemia intecto-cultural em que estamos inseridos.

Na saúde, alem do sempiterno vergonhoso atendimento ao cidadão, para piorar ainda mais as coisas temos o retorno de doenças há muito tempo já controladas e ainda vemos o avanço de epidemias causadas por vetores que estão tomando a sociedade. Um dos casos mais claros deste estado de abandono foi o avanço da febre amarela na região sudeste. Das doenças provenientes do aedes aegypti nem é necessário comentar.

Além destes fatos tão marcantes e presentes em nosso dia-a-dia algo que pouco se fala é de nosso processo de desindustrialização. Desde que Fernando Collor, quando presidente, iniciou um processo de abertura para importação sem critérios a indústria brasileira começou a ir para o ralo. Depois nem FHC, Lula, Dilma ou o vampiro fizeram nada que invertesse este estado de coisa. Estamos cada vez mais indo para o tempo em que nossa economia se baseava no café, ou seja, estamos voltamos para o século XIX, se as coisas não se inverterem um dia iremos sonhar com sessenta e quatro. Pr sorte hoje temos também soja, trigo, milho, gado, etc.
Sem contar que nossas universidades estão todas sucateadas. Atualmente o retrato do ensino superior do Brasil é o que está expresso no slogan das propagandas das faculdades particulares: “seu emprego garantido”, algo mais ou menos parecido com isto, ou seja, o brasileiro está sendo preparado única é exclusivamente para o mercado de trabalho. Passando longe de uma proposta de desenvolvimento tecnológico e intelectual.
A grande falha nesta teoria é que só terá emprego quem for para o campo.

Bem! De certa forma resolve o problema da educação, enfim, estudar não será necessário, porque nossas lavouras serão como as de antigamente, na enxada mesmo, porque tecnologia nunca tivemos, não é a partir de agora que vamos passar a ter.
Mas, quero esta otimista, preciso de estar, por isto estou esperando desesperadamente o retorno para o século XXI, porque há outras nações que já estão pensando o século XXII.

sábado, 16 de março de 2019

Trevo de Bonsucesso - Guarulhos/SP



Quase todas as médias e grandes cidades são cortadas por grandes rios que exigem muito investimento em pontes e passarelas, porém Guarulhos foge à regra, pois os grandes rios passam às margens da cidade. Mas como não se pode ter tudo, por nossa vez temos a Rodovia Presidente Dutra dividindo a cidade em duas partes. E pelo grande fluxo desta rodovia somente se dá para cruzá-la por viadutos (ou túneis, quem sabe?). Daí, todos os traumas do trânsito nos trevos da cidade que cruzam a rodovia, sobretudo em Bonsucesso.
E o grande problema do Trevo de Bonsucesso é que este é tratado como um problema.
Um problema que tem de ser solucionado a qualquer custo (literalmente a qualquer custo). Porém, o que se tem até agora são décadas de obras e sempre o mesmo caos. As agruras no trânsito do Trevo de Bonsucesso somente serão minimizadas quando este deixar de ser um problema e passar a ser visto como alternativa, como uma opção e não tão somente como solução única. E para isto deve-se criar outros trevos (ou túneis, quem sabe?).
A grande maioria da população vive do lado oeste da cidade, lado em que está o centro, porém a “minoria” que está no lado leste deve superar os trezentos mil habitantes, provavelmente muito mais que isto. Além da grande população o lado leste abriga milhares de empresas (pequenas, médias e grandes indústrias e transportadoras; shopping center, universidade federal, CEU’s; escolas estaduais, municipais e particulares; hospital, comércio intenso, etc). Isto significa uma população flutuante muito grande de trabalhadores e estudantes transitando em ônibus, carros, e caminhões. Ainda há o fato de que o lado leste de Guarulhos é vizinho da região leste da capital, o que eleva o outro lado para alguns milhões de pessoas.
Para dar vazão a todo fluxo do trânsito que é gerado pelo ir e vir desta massa que quer ou precisa ir de um lado para outro, há apenas três opções: o trevo em questão, o de Cumbica e o do aeroporto. Todos sobrecarregados.
Então, creio que a solução não está em aumentar o gargalo de Bonsucesso, ou nos outros trevos, mas criar outros viadutos (ou túneis). Sugestões: nas proximidades da Churrascaria Cumbica e próximo à Indústria Karina. Apenas para começar um diálogo. Bem! Escolher os locais é para técnicos.
O certo é que passar a eternidade tentando resolver o Trevo de Bonsucesso nele mesmo se estará sempre correndo atrás do tempo perdido, pois a cada década de “invenções” e investimentos no local a população aumenta, assim como o desenvolvimento da região, com isto o fluxo de ir e vir também cresce, e parece que exponencialmente. Ou seja, mais e mais carros, mais e mais ônibus e mais e mais caminhões seguindo para o gargalo.
O resultado todos que precisam passar pela região sabem muito bem qual é. Creio que somente as administrações que se sucedem não entendem muito bem; ou não querem entender. Enfim, são décadas de investimentos.
(AEM, 03/19)

quinta-feira, 14 de março de 2019

Paul Klee - Equilíbrio Instável

Nas casas de St Germain, 1914
Aquarela sobre papel sobre cartão

A exposição Equilíbrio Instável do suíço Paul Klee (1879 – 1940) que o Centro Cultural Banco do Brasil – SP está exibindo é uma mostra do próprio momento histórico em que o artista estava inserido. Na mostra, que se iniciam com os desenhos de infância, as várias faces do artista se mostram em expressionismo, cubismo, abstracionismo e surrealismo. Além desta inquietude, Klee também partiu para experiências com suportes e tintas para suas obras, o que hoje dificulta a conservação de seu trabalho, pela instabilidade dos produtos utilizados.

Algo que me chamou atenção na mostra foi a ausência das irritantes selfies. Sim, em pleno domingo uma mostra de um artista histórico não apresenta intermináveis filas e nem pessoas querendo mostrar ao mundo que estiveram lá.

Este quase desinteresse pelo suíço talvez se deva ao fato deste não ter por aqui a mesma popularidade de outros nomes das artes, como os impressionistas que no mesmo local me fez esperar duas horas para ver, de forma desconfortada, os Monet’s, Renoir’s, entre outros. Mas há que se considerar que esta exposição foi muito mais significativa que a atual. Até mesmo para Klee não dá para se dizer que se trata de uma mostra tão representativa deste artista esta que vi em um tranquilo domingo.

Além das obras, as histórias vividas por Klee são destaques da exposição. Enfim, uma biografia de um artista que viveu na Alemanha nazista, onde a arte moderna foi ferozmente perseguida tem quer exaltada sempre. Vale citar que Klee teve quinze obras levadas para a exposição Arte Degenerada, que foi promovida por Hitler e seus asseclas, onde artistas modernistas foram expostas ao lado de trabalhos de dementes, com o intuito de desvalorizar e ridicularizar a arte moderna.
Klee, devido a perseguição nazista, retornou para suíça.

Outra história interessante é a que se refere à obra Angelus Novus (1920)* que foi adquirida por Walter Benjamim. O filósofo se interessou tanto pela obra que a comprou e a sempre levou consigo enquanto foi possível separando-se dela somente quando foi na mal sucedida fuga da perseguição nazista.

Entre desenhos, pinturas e histórias a exposição representa mais que a obra de um artista, mas todo um denso momento histórico, tanto político, quanto artístico, que se passou na Europa, e, em particular, na Alemanha no entre guerras.

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Para uma reflexão paralela com o momento particular em que vivemos no Brasil do século XXI esta exposição escancara o ridículo em que muitos dos atuais contestadores das artes estão inserido.
Por um desejo de ser revolucionário, contestador a qualquer custo, artistas e pseudopensadores estão se perdendo, tanto pela falta de talento, quanto pela falta de visão clara e objetiva das coisas, pois estão por demais ligados a uma ou outra ideologia, relegando o bom senso; principalmente porque, assim como as malditas selfies são para as pessoas se mostrarem descoladas, também pertencer há algo, sem ver todo o contexto, ou mesmo ignorando completamente hipóteses contrárias ou mesmo verdades declaradas, também o é.
Pobres Klee e Benjamim que testemunharam de fato o radicalismo verdadeiro da época.
Grandes Klee e Benjamim que deixaram um legado verdadeiro de reação à ameaça que viveram, sem demagogias baratas.

Angelus Novus

* Angelus Novus (1920)
Óleo transferido e aquarela sobre papel.
Paul Klee
A exposição apresenta um fac-símile da obra. O Original pertence ao Museu de Israel. 



(AEM, 03/19)