quinta-feira, 14 de março de 2019

Paul Klee - Equilíbrio Instável

Nas casas de St Germain, 1914
Aquarela sobre papel sobre cartão

A exposição Equilíbrio Instável do suíço Paul Klee (1879 – 1940) que o Centro Cultural Banco do Brasil – SP está exibindo é uma mostra do próprio momento histórico em que o artista estava inserido. Na mostra, que se iniciam com os desenhos de infância, as várias faces do artista se mostram em expressionismo, cubismo, abstracionismo e surrealismo. Além desta inquietude, Klee também partiu para experiências com suportes e tintas para suas obras, o que hoje dificulta a conservação de seu trabalho, pela instabilidade dos produtos utilizados.

Algo que me chamou atenção na mostra foi a ausência das irritantes selfies. Sim, em pleno domingo uma mostra de um artista histórico não apresenta intermináveis filas e nem pessoas querendo mostrar ao mundo que estiveram lá.

Este quase desinteresse pelo suíço talvez se deva ao fato deste não ter por aqui a mesma popularidade de outros nomes das artes, como os impressionistas que no mesmo local me fez esperar duas horas para ver, de forma desconfortada, os Monet’s, Renoir’s, entre outros. Mas há que se considerar que esta exposição foi muito mais significativa que a atual. Até mesmo para Klee não dá para se dizer que se trata de uma mostra tão representativa deste artista esta que vi em um tranquilo domingo.

Além das obras, as histórias vividas por Klee são destaques da exposição. Enfim, uma biografia de um artista que viveu na Alemanha nazista, onde a arte moderna foi ferozmente perseguida tem quer exaltada sempre. Vale citar que Klee teve quinze obras levadas para a exposição Arte Degenerada, que foi promovida por Hitler e seus asseclas, onde artistas modernistas foram expostas ao lado de trabalhos de dementes, com o intuito de desvalorizar e ridicularizar a arte moderna.
Klee, devido a perseguição nazista, retornou para suíça.

Outra história interessante é a que se refere à obra Angelus Novus (1920)* que foi adquirida por Walter Benjamim. O filósofo se interessou tanto pela obra que a comprou e a sempre levou consigo enquanto foi possível separando-se dela somente quando foi na mal sucedida fuga da perseguição nazista.

Entre desenhos, pinturas e histórias a exposição representa mais que a obra de um artista, mas todo um denso momento histórico, tanto político, quanto artístico, que se passou na Europa, e, em particular, na Alemanha no entre guerras.

****************************

Para uma reflexão paralela com o momento particular em que vivemos no Brasil do século XXI esta exposição escancara o ridículo em que muitos dos atuais contestadores das artes estão inserido.
Por um desejo de ser revolucionário, contestador a qualquer custo, artistas e pseudopensadores estão se perdendo, tanto pela falta de talento, quanto pela falta de visão clara e objetiva das coisas, pois estão por demais ligados a uma ou outra ideologia, relegando o bom senso; principalmente porque, assim como as malditas selfies são para as pessoas se mostrarem descoladas, também pertencer há algo, sem ver todo o contexto, ou mesmo ignorando completamente hipóteses contrárias ou mesmo verdades declaradas, também o é.
Pobres Klee e Benjamim que testemunharam de fato o radicalismo verdadeiro da época.
Grandes Klee e Benjamim que deixaram um legado verdadeiro de reação à ameaça que viveram, sem demagogias baratas.

Angelus Novus

* Angelus Novus (1920)
Óleo transferido e aquarela sobre papel.
Paul Klee
A exposição apresenta um fac-símile da obra. O Original pertence ao Museu de Israel. 



(AEM, 03/19)

Nenhum comentário:

Postar um comentário