Centro Municipal de Educação Adamastor - Guarulhos/SP
Exposição desprezada para acomodar um evento sobre educação
“Talvez se busque para arte um público que ela não tenha.”
Este pensamento de Paulo Venâncio Filho vez por outra volta
a minha mente. E volta forte, sobretudo em momentos como o que estou
testemunhando atualmente tão próximo; vem e me obriga a dar razão ao curador
carioca que nos expressou isto em uma entrevista dada na época da 30 x Bienal.
O que sempre me traz à memória a entrevista vem das tantas e
tantas exposições que já participei da montagem. E digo mesmo que ir a um Salão
de Exposição e montar/pensar uma mostra é algo que realmente gosto muito.
Sobretudo quando se trata de um artista de alto nível, como Gustavo Moreno,
artista da Bahia que, inclusive, venceu o 15º Salão de Arte de Guarulhos e que
foi profundamente desrespeitado pela organização de um evento que está
acontecendo no Adamastor; assim como foram desrespeitados todos que são
admiradores das artes e de Cultura verdadeira. Senti-me também atingido, pois,
enfim foi mais uma das tantas exposições que participei na montagem.
Com todas as limitações e dificuldades imagináveis que há no
poder público já participei de dezenas, talvez, centenas de montagens de
exposições nos espaços oficiais da prefeitura (Adamastor, BML e CPE) e até em
outros espaços; nos sete anos que trabalho com artes vi algumas vezes as
exposições causaram algum tipo de problema, estranheza, algo perfeitamente
normal (arte e artista causar), porém sempre o diálogo prevaleceu e sempre se
solucionou; de alguns casos hoje em dia rimos das histórias que vivemos, como
quando o Pato teve que “colocar cueca” em um grafite; ou uma nada discreta fita
azul colocada para proteger, em um Salão de Arte, uma obra que tinha quase
duzentas facas.
Porém, e a atualidade? O diálogo pode ser considerado coisa
do passado?
Espero que não.
Mas, eu que passei uma temporada no CEU Paraíso – Alvorada
retornei de onde não deveria/queria sair há dois meses, e neste tempo já vi o
vazio deixado por obras retiradas de uma exposição de forma totalmente
arbitrária por questões morais-religiosas; vi agentes/funcionários de uma
universidade local colocar uma intervenção absurda em meio ao salão de
exposição; vi trabalhadores de uma empresa que iria promover um evento começar
a desmontar um sala que havíamos criado para guarda temporária de obras; e
agora testemunho uma verdadeira ressignificação de uma exposição, uma total e
devastadora desvalorização da arte e de um artista muito talentoso.
É com este espírito que se prepara mais uma Conferência de
Cultura?
Fica a questão: que tipo de cultura irá se tratar?
Quando veremos uma Política Cultural prevalecer sobre a
cultura política?
Espero, sinceramente, que as coisas mudem.
Espero que antes de se retirar obras, seja por que motivo
for, se busque entender os porquês dos trabalhos, através do diálogo;
Espero que antes de se “atropelar” uma exposição, ou
qualquer outra atividade, busque-se o diálogo antes de tomar atitudes
arbitrárias;
Espero que antes de se agir de forma imediatista para
atender seja quem ou o que for se saiba que as coisas são programadas, preparadas
e pensadas com muita antecedência; e que assim devem ser;
Espero que, da maneira que for possível, o poder público não
trabalhe para si próprio, mas para os cidadãos, que no caso da cultura “ganham
o status” de artista e admiradores de artes, que merecem e devem ser respeitado
como todos; até porque são fonte criadora, agregadora, inspiradora,
questionadora e muito mais;
Enfim, espero que haja uma política onde se tenha como
princípio, no mínimo, o respeito como norteador das ações.
Sei que ao modo em que as coisas estão não dá para esperar
mais, pois se nota claro a percepção apresentada por Paulo Venâncio; há um
predomínio escancarado do pragmatismo e da burocracia. E o pragmático é
elemento terra. Não se espera que este seja capaz de absorver com facilidade
coisas fluidas e coisas dos ares; coisas que queimam se tornam impensáveis e inaceitáveis.
As coisas etéreas nem sequer podem ser vislumbradas.
(AEM, Set/17)
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