terça-feira, 5 de março de 2013

História de sempre

A Secretaria de Cultura possui uma série de painéis que narra um pouco da história da cidade de Guarulhos. Esta série intitulada Iconografia da Cidade, é formada por quinze painéis que, com imagens e textos mostram uma Guarulhos que parece que nunca existiu, mas que fotos e narrações dos que a conheceram testemunham toda a vivacidade de um passado que nem é tão distante assim.
Um destes testemunhos vem do artista guarulhense Dairo que através do que vê em fotos e pelas próprias rememorações traz cores a estas histórias, quase todas demolidas em nome do futuro.
Mas fica a pergunta: que futuro, que progresso é este?
O trem, metrô, ou seja lá o que se quer hoje foi descartado e desativado em décadas idas; das estações sobrou uma quase desconhecida mostra na praça IV Centenário, onde um trem desprezado e pichado reforça uma história que quase todos que trafegam nos ônibus pela região desconhecem; da antiga estação da Vila Galvão nem o nome da rua ficou, pois esta foi batizada em homenagem ao Sr. Vicente Melro; não questiono a homenagem ao Sr. em questão, mas fica o registro da tentativa de se apagar os últimos rastros do que foi vida um dia e que hoje é mero sonho que, aparentemente, querem reviver (ou não), ou seja, recolocar a cidade nos trilhos. Discuti-se nas mesas os interesses de hoje que mais interessam (sic) quando se fala neste assunto.
Quais desinteresses irão vencer? Ou melhor: está vencendo?
Além dos trilhos arrancados, as olarias, os casarões, as fazendas, as estradas de terra, enfim tudo, em um momento se transformou e surgiram fábricas, avenidas, poluição e trânsito; shoppings, edifícios, consumo e excessos.
De todas, a pior metamorfose é o das estradas feitas para bois e carroças que se transformaram em nossas avenidas, que para o trânsito de algumas décadas passadas eram mais que suficientes; hoje, no entanto, são gargalos, aparentemente sem solução. Andamos hoje com carros com força de centenas de cavalos, mas que andam com velocidade de velhos pangarés pelas avenidas estreitas e sem alternativas.
E o futuro?
Este aponta para o caos em meio a tantos e tantos condomínios que se erguem em todos os cantos da cidade. A paisagem que se transformou com a chegada das indústrias nas décadas de 60 e 70, tornando Guarulhos em cidade progresso, agora vê novo salto apontando para uma verticalização que tende a uma saturação de todos os sistemas de uma cidade despreparada para crescer. E todo mundo sabe disto, exceto os administradores que vivem a decidir em segredos, cantos, bastidores, noites.
A demolição do Casarão Saraceni é somente uma ponta do que vem por aí: derrubar paredes para construir lucros para poucos; assim como no passado, quando os trilhos foram arrancados para satisfazer alguns em detrimentos da sociedade.
Enfim, seja em que época for, interesse particular, descaso e falta de visão parece ser tudo o que temos.

A história sempre ensina, mas parece que somos péssimos aprendizes.

(AEM, 2012)

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