Figura
1
Naquela era de mudanças tão
marcantes, tivemos no ano de 1889 em Paris a Exposição Universal, para qual os
franceses inauguram a Torre Eiffel como grande marco da cidade para mostra, que
se tornou a mais alta estrutura construída pelo Homem até então. Concebida
também com a ideia de homenagear o centenário da Revolução Francesa e com o
intuito de demonstrar a capacidade técnica de criar e construir da era moderna
a obra que havia sido projetada para ser demolida em poucos anos acabou
sobrevivendo para abrigar antenas de rádio, outra maravilha da tecnologia do
final do século XIX.
A obra, imaginada pelo engenheiro e
designer Gustave Eiffel construído em uma era de plena revolução cultural,
acabou por se tornar o principal símbolo de Paris, cidade centro da cultura,
que, já há muito tempo criava e recebia tudo o que havia de novo. Para lá
convergia artistas, escritores e pensadores de todas as partes.
A Torre de Eiffel, pode ser
considerado um selo para finalizar o século que abrigou o avanço maior da
Revolução Industrial. Com esta revolução que levou a novos métodos de criar e
realizar. A torre é um exemplo nítido deste processo. Processo este que se
inicia com o desenvolvimento de outra arte que se firmava com a crescente
industrialização: o design.
A revolução industrial teve profundo impacto no design; e este impacto
foi de mão dupla, pois se de um lado o design levava facilidades ao processo
fabril, por outro os processos em si levaram desenvolvimento a esta arte e aos
designers; foi a partir deste que máquinas e suas partes e objetos foram
padronizados. Além do padrão, tanto nos produtos, quanto nos métodos de
produzir levou ao aumento cada vez maior da produção e com isto todas as
consequências positiva e negativas que vem deste processo.
A produção e a padronização levaram ao aumento da oferta de produtos que
exigiam consumo; aqui também uma via mão de dupla.
Se Monet, Renoir e Pissarro algumas décadas antes da virada para o novo
século já se ocupavam com novos processos de vida, é certo que os artistas que
se seguiram aprofundaram estas questões. No final do século XIX e início do XX
tivemos muitos artistas que captaram este momento e levaram à sua obra, seja
como forma estética, ou como forma de reflexão as conquistas do mundo novo.
Produtos de designer acabaram por até mesmo se tornarem obras de arte.
Além da fotografia e do cinema, que iniciava sua caminhada que o levaria
a se transformar na arte mais popular do século, as artes tradicionais
captariam e registrariam as novidades a seu modo; indo até ao ponto de se
recriar.
Figura 2
Fernand Léger
Fernand Léger é um artista que captou em sua obra a nova fase da Humanidade.
Fosse por produzir uma obra que caracterizava o que poderia se chamar de
moderno, seja por criar obras, em seu cubismo bem peculiar, que traziam
representações de máquinas que mais se
aproximam da abstração; a obra Elemento mecânico de 1924 (figura 2)
retrata este lado do artista. Léger, após a primeira guerra, na qual lutou, foi
influenciado pelas máquinas utilizadas nas batalhas, fossem carros ou tanques,
e levaria à sua obra, após o término das lutas, estas influências referente à
tecnologia mecânica. O artista também se embrenhou na nova arte, o cinema, e
dirigiu o filme Ballet Mecânico (1924). O título do filme que mostra o
fascínio do artista pela modernidade é uma obra de caráter surrealista, embora
Léger, com suas pinturas, não tenha sido considerado um exemplo deste estilo.
O cinema também foi pesquisa de Duchamp que realizou em 1926 o filme Anemic
Cinema. Porém, Duchamp, anos antes já havia se destacado por outra via,
pois vem na outra mão e traz para a arte novos elementos, tornando o urinol, um
aparelho impensado como produto de arte, célebre ao levá-lo do design moderno a
uma exposição onde questionava o próprio sentido de arte. A Fonte
(1917), obra ícone que deu origem ao que o artista denominaria Ready Made,
eleva o diálogo iniciado pelo dadaísmo a outras questões. Surge a partir de
então uma nova forma de ver a própria arte. Certo que o urinol é um produto do
design, mas a ideia de Duchamp abria um campo sem limites; assim décadas depois
da Fonte, Nelson Leirner expõe no 4º Salão Nacional de Brasília a obra O
Porco (1967) – um porco empalhado dentro de um engradado.
Mas antes mesmo de A Fonte, Duchamp já utilizara outros objetos em
suas obras, como em A Roda de Bicicleta (1917) (imagem 3) e Porta
Garrafas (1916). Design novos para funcionalidades em nova apresentação,
como objeto de ver.
Marcel Duchamp
Outro artista que busca pela inquietação do mundo moderno é Francis
Picabia, que navegou entre o cubismo, dadaísmo e surrealismo. Ajudou a fundar o
dadaísmo no EUA Editou revista em Barcelona sobre o movimento Dadá.
Assim como Léger, Picabia interessou pelos novos sistemas mecânicos, mas
que poderiam ser ditos antimáquinas, como engrenagens que retratou em várias
obras, que como exemplo pode se citar Machine
Turn Quickly, 1916-1918 (imagem 4).
Machine
Turn Quickly, 1916-1918
Francis Picabia
Man Ray, americano que se associa ao movimento surrealista, além da
fotografia que o evidencia pelas experiências com esta arte, também produziu
filme (L'Étoile de Mer – 1928). Este ciclo de artistas, sobretudo os
surrealistas, foram fundamentais para o surgimento da arte contemporânea
apontando infinitas possibilidades.
A partir destes processos e visões, onde tudo é possível surge Kurt
Schwitters, que passa a fazer colagens utilizando tudo o que encontra.
Schwitters começa em 1923 um grande projeto em sua própria casa, que chama de
Merzbau (Casa Merz) (imagem 5) que consiste em ir fazendo todo tipo de
intervenções ocupando todo o espaço. Fazendo colagens ou colocando objetos nos
espaços possíveis a obra vai crescendo como um ser orgânico, que jamais será
terminado. O projeto do artista foi inspiração para o sentido de instalação
como arte. Durante a segunda guerra a casa de Schwitters foi destruída.
Sejam explorando novas técnicas ou utilizando os
novos meios, a arte se reinventou tanto por assimilar a tecnologia nascente ou
por questionar os novos meio de vida. Dos tempos em que os impressionistas
começaram a captar o mundo moderno aos tempos em que se começava a revolucionar
a própria modernidade com os surrealistas e dadaístas os artistas mantiveram
forte diálogo com a tecnologia.
Acostumados a trabalhar com as sensações e
sentimentos os novos artistas passaram a pensar uma nova cultura. Um passo
enorme se deu desde o iniciou com Pissarro mirando as fábricas ao invés da
frugalidade ao tempo em que Léger, Duchamp, Picabia e Man Ray, entre outros,
olham para tudo e a tudo vêem como arte ou como não arte em um questionamento
amplo sobre o novo mundo e a nova cultura. No início do século, Kurt
Schwitters, mais que qualquer outro artista, tenta olhar para dentro de si
mesmo e produzir uma obra que antes de representar um novo mundo, talvez seja a
representa dele mesmo na busca por se encontrar e se reconstruir.
A arte da virada do século apontava para uma nova forma que ultrapassaria
em muito as tradições; além das novas técnicas e de um mundo em constante
transformação que levou a Humanidade a novas questões, tais como pensar a arte
e a própria vida. As inovações tecnológicas em todas as áreas, desde o design
de sanitários ao tanque de guerra, passando pela fotografia e o cinema, tudo
parece ter se tornado complexo, tornando complexo o próprio cotidiano,
suscitando por isto novos questionamentos. Daí entender o insulamento de Kurt
Schwitters e sua busca por se fechar e produzir algo que talvez fosse uma
própria forma de autoentendimento ou quem sabe uma forma de se expressar e
libertar a opressão que surge nas eras de profundas transformações; semelhante
ao que vivemos hoje.
[1] No ano de 1869 Monet (Banhista de
Grenouillière), Renoir (La Grenouillière) e Pissarro (La Grenouillère em Bougival) produziram uma
série de obra em uma localidade francesa chamada Grenouillière.
(AEM, 2016)





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