TEATRO
Rua Francisco Foot, s/n – Gopoúva - Guarulhos/SP
Com obras
concluídas em 1937, com recursos da Caixa Beneficente e mão-de-obra dos
internos, o Clube Padre Bento foi concebido com o intuito de dar vida social
aos internos do sanatório localizado no bairro de Gopoúva em Guarulhos que para
lá eram levados compulsoriamente. Construído em art déco, com projeto assinado
pelo engenheiro Francisco de Palma Travassos, o edifício abrigava cinema,
cassino, bar, salão de baile e biblioteca. Quando de sua inauguração, este
espaço era comparados aos mais luxuosos de São Paulo, não havia nada igual para
população da cidade que lhe era sede, muito provinciana e que, naquele tempo,
era considerada muito distante do centro de São Paulo, esta uma das razões de
implantar nesta região um leprosário.
O Clube
era luxuoso: seu hall de entrada e a escadaria de acesso ao salão eram
revestidos com granito; o salão em seus trezentos metros quadrados, onde eram
realizados os bailes dos internos, que eram animados pelas melhores orquestras
de São Paulo, era revestido por belíssimo assoalho e iluminados por
candelabros, possivelmente de cristal; o salão possui amplas janelas e três
sacadas. O cinema, que ficava no piso térreo, possuía quatrocentos lugares.
Como destaque,
devido à proibição radical de contatos com os internos por não doentes, havia
uma tribuna, cujo acesso era pela lateral do Clube; lá era onde as orquestras
se apresentavam e de onde os familiares, que não haviam abdicado dos seus
parentes contaminados, podiam vê-los divertir-se no Salão de Baile.
O local teve seu esplendor como
contraste com a razão para a qual foi criado, sendo um local onde os internos
podiam esquecer um pouco de seus destinos. Quando se descobriu a cura para a
doença e as internações compulsórias foram encerradas, em São Paulo isto
aconteceu no final da década de sessenta, o clube começou a entrar em
decadência.
O clube que era administrado
pela Caixa Beneficente, rica nos tempos da internação compulsória, perdeu sua
força com o desinteresse dos patrocinadores e da sociedade que não precisavam
mais confinar os hansenisianos. A partir de então o clube para se manter foi
transformado em cinema aberto para a população do bairro que já na década de
sessenta começava a se adensar. Mesmo abrindo suas portas o clube não conseguiu
se manter ao longo dos tempos e deteriorava-se cada vez mais sem as devidas
manutenções.
Vários fatos demonstram a falta de cuidados e apoio com o local, entre
estes se destacam o incêndio na cabine de projeção; os candelabros que
desapareceram; a cessão do espaço do salão, outrora luxuoso, para oficina de
molduras; abertura de uma oficina de sapatos onde antes era o salão de jogos;
os porões serviram para abrigo de sem tetos; mesmo a prefeitura fez uso indevido
do espaço, fazendo sob o palco uma fábrica de urnas funerárias.
Este estado de abandono
perdurou até o início deste século quando o espaço, que pertencia ao Governo do
Estado de São Paulo, teve sua administração cedida para prefeitura de Guarulhos. Após este processo
e com recursos da Petrobrás o edifício foi restaurado e entregue à população
como Teatro Padre Bento, no ano de 2007.
O edifício foi tombado pelo
CONDEPHAAT com resolução em 14/06/2011 e pelo Conselho Municipal de Patrimônio
de Guarulhos.
SEGREGAÇÃO
A hanseníase, conhecida também
como Lepra ou mal de Lázaro, doença conhecida destes os tempos mais remotos da
civilização, até a descoberta da cura nos anos cinquenta do século passado,
sempre teve o mesmo meio de se evitar o contágio: a segregação.
Sem tratamentos eficientes, a
doença degenerativa, evolui lentamente, deformando os infectados até o fim,
levando muito sofrimento físico e moral. O abandono por parte de familiares,
temendo o contágio, era o primeiro sinal da nova vida que se apresentava. O
confinamento era o golpe final em quem apenas esperava pela morte sem
expectativas de cura.
O mal que era de alcance
universal começou a ter momentos mais dramáticos no fim do século XIX, quando
em uma conferência sobre lepra em Berlim[1]
começou a se propor o isolamento dos portadores da doença. Este também foi
proposto na Conferência Americana de 1922. Estes fatos levaram o governo
brasileiro a tornar Lei a internação compulsória em 1923. Seguindo por esta via
o Estado de São Paulo criou em 1931 a Inspetoria de Profilaxia da Lepra, órgão
responsável pela prevenção da doença com o intuito de eliminar o mal no Estado,
pois se acreditava que retirando os infectados de contatos sociais a doença
tenderia a erradicação. A segregação dos hansenisianos em todas épocas da
história humana sempre foi utilizada, mas o que chama atenção é isto se oficializar em todos os paises no surgir da
modernidade.
No Estado de São Paulo havia
cinco locais de confinamento destinados aos portadores de hanseníase, os
chamados Asilos Colônias. Além do Sanatório Padre Bento em Guarulhos havia os
sanatórios de Santo Ângelo em Mogi das Cruzes, Pirapitingui em Itu, Cocais em
Casa Branca e Aimorés em Bauru. Estes sanatórios eram divididos em três partes:
área sã, área mista e área contaminada. Como norma infectados eram
terminantemente proibidos de entrar nas áreas chamadas sadias.
Nestes locais de confinamentos,
onde não havia esperança de sair, os internos, em muitos casos, perderam o
contato com os familiares, que simplesmente os abandonavam. Devido a esta
situação constituíam-se novas famílias dentro dos sanatórios, algo que não era
apoiado pelos administradores dos hospitais das colônias.
A
situação tomava contornos mais dramáticos quando se separavam as crianças dos
pais, tanto quanto os pais eram os doentes, ou quando eram as crianças as
portadoras.
SANATÓRIO PADRE BENTO
Os Asilos
Colônias recebiam recursos das Caixas Beneficentes que por sua vez eram sustentadas por doadores privados e por grandes empresas. Pelas realizações nos complexos, como
exemplo pode ser citada a construção do Clube Padre Bento, avalia-se que os
recursos eram elevados.
Estes
sanatórios possuíam duas administrações: a do governo, que eram mais relativas
ao hospital e ao tratamento dos doentes e a dos internos que regulava a
sociedade interna, que no caso de Guarulhos chegou a ter cerca de 1500 pessoas
(número referente somente aos internados); estes sanatórios tinham uma vida
independente e agitada podendo ser comparadas a pequenas cidades. Havia três
“autoridades” nos asilos, todos internos: o presidente da Caixa Beneficente,
prefeito e delegado, todos com poderes semelhantes aos da sociedade externa.
O
Sanatório Padre Bento, considerado modelo, isto para época, tinha todas as
comodidades para minimizar o estado de isolamento dos contaminados. Além do
belo e imponente Clube e do hospital, havia creche, igreja, centro espírita,
casas para os casados, dormitórios com alas para homens e mulheres, campo de
futebol, piscina e até uma pérgula onde os namorados iam passear sob olhar
atento dos guardas. Esta pérgula, que pode ser vista por quem passa pela
avenida Emílio Ribas, atualmente está abandonada, deteriorando.
A enorme
área do complexo após o fim da internação compulsória foi desmembrada e dada
outros usos para os espaços. Sobraram ainda, além do Teatro e a pérgula, o
Complexo Hospital Padre Bento (que após ser adaptado passou a atender a
população, sendo este o único hospital estadual da cidade), a igreja, o centro
espírita, algumas casas que eram para os internos e o campo de futebol.
Nos anos
noventa o estado construiu um conjunto habitacional em parte do terreno e foram
aberto ruas pela prefeitura.
ATUALMENTE
Em 2007, como parte das
comemorações dos 447 anos da cidade, a Prefeitura de Guarulhos entregou o
Teatro Padre Bento para a população. O Teatro entrava em uma nova fase com a
reforma e voltava a ter vida, desta vez sem segregação ou deterioração. Assim
prosseguiu levando peças teatrais, oficinas e os mais diversos eventos aos
guarulhenses. Porém, esta fase teve curta duração, pois no dia 21/09/2010, uma
forte tempestade caiu sobre Guarulhos atingindo em especial a região onde está
localizada o Teatro. A tempestade atípica pela quantidade de granizo, causou
muitos danos aos bairros da região do Gopoúva, destruindo muitos telhados,
entre estes o do Teatro.
Desconsiderando os danos
causados pela tempestade, a Secretaria de Cultura de Guarulhos, responsável
pela administração direta do Teatro, não tomou as devidas providências para
manutenção e reforma da cobertura, que teve como resultado infiltrações e com
isto as consequências naturais decorrentes do fato. Mais uma vez o Teatro Padre
Bento, o mais importante monumento histórico de Guarulhos, teve de ser fechado
porque as tantas avarias tornaram o prédio praticamente sem condições de uso
para a população, com pisos mofados e soltando-se do chão. A situação atingiu
um ponto em que o assoalho do Salão de Baile teve de ser totalmente retirado.
Mesmo sem estar com plenas
condições de uso há ensaios, oficinas e apresentações nas salas e palco do
teatro.
Este é o momento atual do
edifício que aguarda providências da Prefeitura quanto à reforma e retomada de
rumo para este espaço de tanta cultura e tantas histórias.
Bibliografia
RUBIO, Arnaldo. Eu denuncio o
Estado. São Paulo. Navegar. 2002
SCIELO: http://www.scielo.br/

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